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Todo ano, na segunda quinta-feira de novembro é comemorado em vários países o Dia Mundial da Qualidade, criado pela Organização das Nações Unidas em 1990, com o objetivo de debater a importância da qualidade dentro das empresas, conscientizar e incentivar as organizações a buscarem constante desenvolvimento.
Diversos eventos marcam esta data, neste ano comemorada no dia 14 de novembro, disseminando informações sobre as várias dimensões da qualidade, buscando aumentar a consciência para os fatos e dados que baseiam a realidade, e fazendo chamamentos para possíveis ações dentro do processo de melhoria contínua.
Os conceitos e práticas da qualidade evoluíram sobremaneira desde os primórdios da civilização, passando pelo controle da qualidade na Revolução Industrial, o controle estatístico de processos já na segunda guerra mundial, Garantia da Qualidade, Gestão da Qualidade e Qualidade Total em décadas recentes (fonte: livro “O Movimento da Qualidade no Brasil”, INMETRO, 2011). Da definição mais afeta à qualidade de produtos, ao controle de processos e à definição ampla de qualidade; da preocupação com características técnicas de produtos, até a adequação ao uso e foco no cliente/consumidor; da qualidade em organizações produtoras até a qualidade de serviços, incluindo os serviços públicos; da qualidade como função e departamento, até a mobilização de toda a organização para o assunto.
Grandes transformações vêm acontecendo devido a mudanças globais como a urbanização, a globalização, a revolução digital e tecnológica, e novo mindset. A gestão da qualidade tem evoluído em linha com todos estes movimentos, expandindo-se com foco no propósito e valores, com balanceamento entre processo e desempenho, com interfaces cada vez maiores com governança, produtividade e competitividade.
Na semana passada participei do evento comemorativo do Dia Mundial da Qualidade: VI SEMINÁRIO ABQ QUALIDADE SÉCULO XXI – O Imperativo da Governança Sustentável, promovido pela ABQ (Academia Brasileira da Qualidade) na FIESP em São Paulo, do qual destaco a seguir alguns dos pontos discutidos de alta relevância para a competitividade e governança do Brasil.
QUALIDADE x COMPETITIVIDADE
No Seminário foi apresentado por pesquisador da Universidade do Minho, Portugal, o interessante Relatório World State of Quality 2017 , liderado por Universidades portuguesas, que retrata o diagnóstico da qualidade em 110 países sobre os dados de 2016, baseados em 10 dimensões e 16 indicadores.
Os países são classificados em 5 categorias conforme os resultados do indicador: líderes (verdes), seguidores (amarelos), moderados (laranjas), atrasados (azuis) e iniciantes (vermelho), resultando no gráfico a seguir:
NOTA: países na cor cinza = sem dados.
O Brasil ficou na ruim 59ª posição, sendo a classificação dos indicadores:
Como é possível notar nos dados, o Brasil estava pior em indicadores econômicos e sociais em 2016 (desigualdade de renda, taxa de desemprego, facilidade de fazer negócios, competitividade global e mortalidade ao nascer). Os melhores indicadores referem-se a índice de felicidade, número de membros em academias internacionais de qualidade e universidades em ranking internacional de pesquisas.
PERDA DE COMPETITIVIDADE E PRODUTIVIDADE ESTAGNADA
Foi amplamente ilustrado com dados o fato de o Brasil estar perdendo competitividade há anos, o que explica a posição do país entre os últimos no ranking global sobre o tema. Além disto, o panorama quanto à produtividade não é animador, estagnada há vários anos.
Estudo de competitividade do Brasil frente a outros 17 países (CNI) apresentado no evento, mostra que o nosso país ocupa a penúltima posição, com resultados ruins em disponibilidade e custo de capital, infra-estrutura e logística (incluindo o custo da energia, o pior dos países pesquisados), peso dos tributos, ambiente macroeconômico e ambiente de negócios (incluindo resultados de controle da corrupção, segurança jurídica e burocracia). É digno de nota também um bom montante de recursos para a educação, porém que não reverteu em resultados concretos de disseminação e qualidade da educação.
É importante ressaltar a conexão entre qualidade, sustentabilidade e competitividade, o que foi feito ao longo de algumas apresentações. No caso da fala da representante da FGV, trazendo estudos sobre os impactos da regulação e da normalização técnica sobre o comércio internacional. Foi bastante ressaltado que a regulação e normalização técnica, ambiental, sanitária e fitossanitária no Brasil destoa sobremaneira de padrões internacionais, usada como era no passado como barreira às importações e instrumento de reserva de mercado. Ela ressaltou a necessidade de alinhamento interno às normas internacionais, de modo a aumentar nossa abertura para o comércio internacional e a competitividade do Brasil diante de outros players internacionais. Neste sentido, vale citar a proposta do atual Governo Federal para rever e atualizar todas as normas federais que regulamentam a operação das empresas, inclusive de indústrias, para torná-las mais simples e alinhadas com a legislação de outros países. Estão na lista de revisão normas de segurança, resoluções da ANVISA, sobre licenças e regras da Receita Federal, entre outras regulações.
O evento trouxe painel de discussão sobre iniciativas para melhorar a competitividade e qualidade do Brasil, contando com representantes governamentais (Ministério da Economia, BNDES, FINEP, SEBRAE), Movimento Brasil Competitivo e apresentação do PBGC – Programa Brasileiro de Gestão para a Competitividade da FNQ.
Certamente este é um dos grandes desafios do Brasil.
CULTURA, ÉTICA E SUSTENTABILIDADE
Permeou os vários estudos e iniciativas discutidos no VI Seminário ABQ a necessidade de uma cultura forte e que habilite um ambiente positivo e de evolução em direção a um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável.
Ressalte-se neste sentido a iniciativa da ISO (TC 176), baseada em proposta chinesa, de elaborar uma norma orientativa sobre como implantar e manter uma cultura de qualidade – a ISO/AWI 10010 – “Quality management — Quality culture —Guidance to people engagement”. Tal norma está em estágio inicial, sendo registrado o novo projeto em 05/08/19.
Também é nítida nas apresentações e iniciativas discutidas a preocupação com um desenvolvimento que traga em seu bojo princípios éticos e de compliance, controles anticorrupção e práticas sustentáveis. Isso ocorre tanto diante de crescimento de exigências de consumidores/clientes no exterior (seja no setor industrial, agrícola, extrativo e de alimentos), como quanto ao desenvolvimento de uma economia verde, inclusiva e sustentável, inclusive no tocante à energia renovável e novos materiais menos poluentes.
CONCLUSÃO
Como vemos, os desafios do Brasil são enormes para a adaptação a um mundo com grandes transformações econômicas, tecnológicas, políticas, sociais, legais e ambientais. No contexto das organizações, as demandas para o sucesso e expansão passam obrigatoriamente pela qualidade, produtividade, competitividade, compliance e sustentabilidade. No que tange ao setor público, é imprescindível a colaboração para reduzir o chamado “custo Brasil”, com medidas legais, políticas, macroeconômicas, sociais, educacionais e ambientais que tragam o país a novos patamares, além da gestão que agregue a qualidade dos serviços prestados, o compliance e a sustentabilidade.
Que possamos nos unir para vencer esse desafio!
Que o movimento da qualidade possa continuar contribuindo para a evolução humana!
Parabéns aos profissionais envolvidos com a qualidade, lutadores que são pela melhoria contínua do mindset, da gestão, processos, produtos e serviços!!!
Michel Epelbaum – Diretor da Ellux Consultoria
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Saiba mais sobre este assunto em nossos posts relacionados:
Reflexões sobre a Implementação na Prática da ISO 9001 e 14001:2015 Parte 1
Reflexões sobre a Implementação na Prática da ISO 9001 E 14001:2015 Parte 2